Dois poemas de Alzira Rufino

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Crioula
eu sou crioula decente
não sou vil
estou nas cordas
em equilíbrio
de um brasil
a minha cor apavora
essa raça agride ouvi dizer
não é nos dentes do negro
não é no sexo do negro
é na arte do negro
de viver
melhor dizendo
sobreviver
com essa coisa que arrasta
o tronco que tentam esconder
mas esses troncos existem
no conviver
os troncos estão nas favelas
vejo troncos nas vielas
nas moradias fedidas
nas peles sem esperança
nas enxurradas de não
no jogo das damas e reis
eu me perdi
nas rotas dos estiletes
nas celas e nos engodos
negro carretel de rolo
querem fazer um mundo
marginal crioulo.
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femineira
baraculê
eu sou mulhé
baraculé
femineira
responde a lua
minha sei lá
diz que o sol é forte
mas vive no luá
da mulhé na rua.
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Alzira Rufino, poeta e presidente da casa de cultura da mulher negra.