– A vida que a gente recorda –
O público que visitou a Feira do Bosque Guarani, na sexta-feira, 16, pôde conhecer, relembrar e dialogar sobre a história de Foz de Iguaçu, por meio das atividades de memória do programa Tirando de Letra, realizado na feirinha pela associação Guatá, com o apoio da Fundação Cultural. A ação contou com a exposição “Retrato de Foz”, conjunto de fotografias sobre o cotidiano da cidade nas primeiras décadas do século XX, além de folhetins e publicações sobre memória.
Turistas e moradores visitantes da feira livre revisitaram cenas, personagens e momentos dos primeiros anos do recém-formado município de Foz do Iguaçu. Em destaque, as imagens que retratam o intenso movimento de passageiros e cargas no antigo porto da cidade, localizado na região próxima à Marinha, ponto de chegada de homens e mulheres que deram sua contribuição para a construção da cidade.
Os retratos também revelam detalhes sobre a instalação na região dos rebeldes paulistas e gaúchos que aqui formaram a Coluna Prestes, que marchou pelo país contra a República Velha, nos anos vinte. Algumas fotos demonstram a estrutura militar do movimento e até o entrosamento de alguns moradores com os “revoltosos”, como eram chamados à época. Uma outra fotografia, demonstra a comemoração quando da partida dos revolucionários e o incêndio de uma igreja por conta de fogos lançados durante os festejos. Imagem que pode indicar um dos primeiros flagrante de fotojornalismo que se tem conhecimento na história iguaçuense.
Curiosidades na História
No acervo da exposição “Retratos”, a foto de meados de 1930 que registra uma caçada de onça pelos antigos moradores de Foz do Iguaçu desperta a atenção principalmente de iguaçuenses. O abate do animal, prática relativamente comum naquele período, teria sido realizado em área de mata do “Rincão São Francisco”. Transmutada aos dias de hoje, o local estaria muito próximo da Praça da Bíblia, na avenida República Argentina, que atualmente é uma área densamente ocupada por residências e comércios.
O músico viajante Carlos Vasquez, original da Costa Rica, ficou surpreso com as fotografias expostas em varal na Feira do Bosque. Vasquez, que em seu país é professor de inglês, buscou relacionar os locais mostrados pelas antigas imagens com a geografia atual da cidade. “São fotografias muito interessantes. Com viajo por várias cidades e países, acho importante conhecer um pouco da história do lugar em que me encontro”, explicou.
Poesia na feira
Além da exposição de fotos antigas de Foz do Iguaçu, a associação Guatá levou à feira livre uma ampla exposição sobre a obra do escritor e dramaturgo alemão Bertolt Brecht. O material apresentou poemas, fragmentos de peças teatrais e outras narrativas do autor que é considerado um dos escritores fundamentais do século vinte. A banca de leitura e expressões ainda reuniu livros cartoneras e boletim infantil com textos, jogos e espaços para colorir. Ainda para a criançada, muito papel para dobradura de balões, barcos e aviões.
A pedagoga carioca Vanessa Arruda visitou a banca da Guatá acompanhada da filha e destacou a iniciativa como um canal para tornar a leitura mais acessível à população. “É um espaço para a circulação da literatura entre a população. Reconheci o “Analfabeto Político” de Brecht, tão atual. E me interessei muito pelas publicações cartoneras, ideia que vou levar para executar na minha escola, lá no Rio de Janeiro, revelou a pedagoga.
Texto e fotos: Paulo Bogler